A realidade enfrentada por pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade extrema nas ruas das grandes cidades brasileiras tem se tornado cada vez mais visível. No cenário do Rio de Janeiro, o tema ganha contornos ainda mais urgentes diante das recentes cobranças feitas por órgãos federais quanto à responsabilidade do poder público municipal. A falta de planejamento e a omissão na criação de políticas estruturadas têm aprofundado o problema e deixado milhares de cidadãos à margem da dignidade.
A demanda por medidas efetivas vem sendo reforçada por instituições que atuam na defesa dos direitos humanos, alertando para o distanciamento entre o que é garantido pela Constituição e o que, de fato, é oferecido pelas gestões públicas. O aumento do número de pessoas vivendo nas ruas evidencia o fracasso de modelos tradicionais de assistência social, além da resistência em adotar novas estratégias já discutidas nacionalmente. O descompasso entre necessidade e ação gera um ciclo de abandono que precisa ser rompido com urgência.
Especialistas argumentam que lidar com esse desafio exige muito mais do que estruturas físicas como abrigos. É preciso uma rede integrada de atenção que contemple moradia digna, saúde, alimentação, educação e inserção produtiva. Quando o poder público ignora esse conjunto de necessidades, o que se vê são ruas tomadas por improviso, sofrimento e uma completa ausência de perspectiva para quem mais precisa do apoio estatal.
O cenário carioca é ainda mais preocupante quando se observa a estagnação no número de equipamentos públicos voltados ao atendimento dessa população, mesmo com o crescimento evidente da demanda. Centros de atendimento permanecem insuficientes, programas habitacionais são escassos e muitas iniciativas reconhecidas como eficazes sequer saíram do papel. Esse quadro de paralisia acaba comprometendo não apenas a assistência direta, mas também o potencial de transformação social que políticas bem estruturadas poderiam gerar.
A ausência de participação social nas decisões e no monitoramento das políticas públicas voltadas a esse tema também contribui para a fragilidade do sistema. Espaços criados para diálogo entre governo e sociedade civil não foram ativados ou estão inoperantes, o que elimina qualquer chance de fiscalização e controle cidadão. Sem escuta qualificada e sem representação de quem vive essa realidade, as soluções tendem a ser genéricas, ineficientes e desconectadas das reais necessidades das pessoas em situação de rua.
Outro ponto crítico é a falta de alinhamento entre as esferas de governo. Quando um município decide não aderir a programas federais já consolidados, perde não apenas recursos, mas também a oportunidade de fortalecer ações integradas e regionais. O desperdício de verbas e a resistência em seguir diretrizes nacionais comprometem o avanço de políticas públicas mais modernas e humanizadas. É um retrocesso que prejudica quem depende diretamente da atuação do Estado.
Em contextos de crise econômica e desigualdade crescente, garantir acesso à cidadania para quem vive nas ruas é um dos maiores desafios urbanos. Porém, esse enfrentamento não pode mais ser adiado ou tratado de forma paliativa. As ações devem ser duradouras, baseadas em diagnóstico, monitoradas por dados e conduzidas com responsabilidade intersetorial. O modelo assistencialista ultrapassado precisa ser substituído por uma abordagem que promova autonomia e integração social.
Diante de tantos alertas e evidências, o momento exige mais do que promessas e discursos. É preciso compromisso político, gestão técnica e envolvimento direto da sociedade para transformar essa realidade. Cidades que desejam ser mais justas e sustentáveis não podem permitir que parte de sua população viva invisível. O futuro urbano começa com o reconhecimento e respeito à dignidade de todos, independentemente de sua condição social.
Autor: Scarlet Petrovic